Mulher

Carlos Drummond de Andrade

“Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos
e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…

Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la
sentir-se em êxtase numa cama,
em uma seda,
com toda viril possibilidade…
Há de se conseguir fazê-la sorrir antes do próximo encontro

Para conhecer uma mulher,
mais que em seu orgasmo,
tem de ser mais que amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair,
e fazer da saudade
e das lembranças, todo sorriso…

O potente, o amante, o homem viril,
são homens bons…
bons homens de abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias…
Há, porém, o homem certo,
de todo instante: O de depois!

Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante,
há de se querer o amanhã,
e depois do amor
um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis
é menor do que o que não se deve perder.

É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café…
Há que ser mulher, por um triz
e, então, ser feliz!

Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la,
mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus,
e merecer um sorriso escondido,
e também ser possuído
e, ainda assim, também ser viril…

Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado…
todo tomado
e, com um pouco de sorte, também ser amado!”