Tenho medo. Medo paralisante de mandar imprimir um papel. NĂŁo sinto medo de subir num trem. Ando quilometros e quilometros tentando adivinhar um idioma mas sigo em frente. Me comunico, entro e saio de museus, mas tenho medo de nĂșmeros, de voz alta e cara feia. Gritos me estremecem. Ir me ascende ao caminho que quero. Talvez nĂŁo voltar me evolua. O que quero Ă© subir e descer de trens. E aprender nas paisagens que agora eu posso ser livre. Que ninguĂ©m vai me machucar nunca mais!
Verde ManhĂŁ
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algum amor
em silĂȘncio a desertar poetas
que nunca se tocaram
em versos
encanto Ă s escondidas
encontro em sonho
sob o véu da manhã
a maneira de amar
janela abstrata
e palavras em canto
no canto o encontro
algum dia… ou nenhum
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sandra barbosa de oliveira
O homem de Istambul
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Tarde da noite.
Eu em sonho a andar pelas ruas da cidade pra lå da ponte. E eis que avisto um alguém, num certo destino, caminhando também. Mãos nos bolsos, passos largos, sombra esguia, esse é o homem.
As luzes da ponte refletem seus olhos no brilho do azul… que ilumina a cidade com suas torres ostentadas para o cĂ©u… e em meu coração rebate.
Meu pensar atravessa as paisagens escuras das ruas boĂȘmias com gente bebendo e cantando, nas calçadas felizes.
Seu movimento me faz crer uma dança e eu me entrego em seus braços, sorrindo e girando num passo de valsa… como ao sopro do vento… que me traz seu perfume em fragrĂąncias de madeira e almĂscar… e me embreaga o sono.
Este ser na cidade Ă© o que eu tanto procuro na histĂłria do sonho. E eu o sigo buscando, mesmo tarde da noite.
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Late night.
In my dreams, I walk the streets of the city beyond the bridge. And then I see a person in a certain destination, walking as well.
Hands in pockets, long footsteps, slender shadow, that’s the man.
The lights of the bridge reflect in his eyes a glint of blue, which illuminates the city with its towers to the sky, and in my heart rebates.
My thoughts traverse the dark landscapes of the bohemian streets with people drinking and singing on the happy sidewalks.
The movement makes me suppose in dance and I surrender in his arms, smiling and spinning, as in the waltz step. And the breath of the wind brings me his scent of wood and musk that destroys my sleep.
I’m looking at the history of dream. And I search for him until late at night.
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sandra barbosa de oliveira
O menino do sonho
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Eu sonho com um menino todas as noites. Ele me estende a mão e me chama pra correr por entre colinas e entre os carros nas avenidas largas. Ele vai à minha frente, me puxando pela mão até uma esquina, a partir da qual não se enxerga mais nada. E ali fica parado minutos a fio. A neblina é muito densa. Mas ouvimos crianças cantando cantigas de roda não muito distantes. A vida dessas crianças é um mistério. Ele estå querendo me mostrar alguma coisa que eu não consigo ver.
DĂĄ pra sentir os aromas da terra que chegam de lĂĄ, eu me encanto com a imensidĂŁo do nevoeiro mas nĂŁo consigo atravessar. Minha perna estremece e o menino me leva de volta pra casa.
Todas as noites ele vem me visitar e fazemos o mesmo trajeto até a esquina sombria. No caminho de volta, o menino cresce e me entrega uma flor. Ao chegarmos à porta, ele se despede e despeja elegùncia até se perder de vista. E todas as noites ele canta pra mim, me faz serenatas, me encanta e me beija. E me leva pra casa, depois dos minutos na esquina vazia. E todas as noites ele chega na porta, vai entrando sem bater e não me leva à esquina. E não me traz mais de volta, e não me deixa sentir os aromas da terra, e não corremos mais por entre as colinas, e dos carros eu só ouço as buzinas do lado de fora. E todas as noites eu sonho com ele, que chuta minha porta, que eu me tranco no quarto, que só escuto seus gritos. Se despiu da elegùncia, se entregou pra bebida mergulhando em perfumes das outras mulheres. E o menino que cresce, envelhece em meu sonho, e eu o levo pra rua, e por entre as colinas eu esqueço o seu nome, e por entre as calçadas não lembro mais nada. E ao chegarmos na esquina, peço a ele que vå. E por entre a neblina, e as cantigas de roda, e os aromas da terra, e as crianças brincando, ele se esvai na densidade da névoa e meu dia amanhece.
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sandra barbosa de oliveira
Backpacking – Barcelona
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Viajar Ă© uma das coisas mais maravilhosas da vida. E viajar sozinho Ă© um encontro consigo mesmo, coisa inigualĂĄvel, principalmente depois de certa idade.
Muitos desencontros me fizeram adiar meus sonhos, mas o mundo då voltas, retorce realidades e acaba por fazer justiça. Tornei-me merecedora de carteirinha.
Tudo o que precisamos para começar é de uma mochila nas costas, porque nunca devemos levar o que não conseguimos carregar.
E foi mochilando que eu descobri o que eu quero fazer da vida, que apesar da minha idade eu sou uma mulher de espĂrito jovem e Ă© assim que vou agraciando a minha autoestima.
Tive um reencontro com a minha meninice, com meu passado… com tudo aquilo que eu havia deixado pra trĂĄs… me encontrei. Foi realmente fascinante, uma libertação.
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Depois de desembarcar em Barcelona, meu primeiro chĂŁo na Europa, sozinha aos 58 anos… explorei a cidade, mergulhei nos encantos da obra de GaudĂ, caminhei pelas ruas lotadas de turistas, andei por cantos com escolas, mercadinhos e lojas onde sĂł mesmo os moradores conseguem frequentar.
Vislumbrei as belezas, os monumentos, as construçÔes medievais e a arquitetura modernista. A praia, o Mediterrùneo, a arte, a gastronomia e principalmente, os aromas.
Me comuniquei super bem em espanhol e atĂ© em lĂngua CatalĂŁ com lojistas, atendentes e visitantes de todas as partes do mundo porque havia me preparado um pouco pra isso apesar de nĂŁo ter domĂnio nenhum sobre o idioma. Barcelona Ă© uma cidade acolhedora, que te deixa com vontade de ficar.
 El Prat – Barcelona  – 17 de outubro de 2016
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Primeiro dia
Deixei o El Prat, (vindo do Brasil num voo da Latam – MĂșltiplos fidelidade e logo que peguei a bagagem, um AerobĂșs (o ĂŽnibus que faz a linha do aeroporto ao centro), que jĂĄ estava estacionado no terminal logo ao lado, me deixou no centro da cidade.
 AerobĂșs – mais informaçÔes
Poderia ter escolhido ir de trem ou taxi mas preferi o Înibus para jå ir me ambientando ao movimento, acompanhando pela janela os caminhos, entre as ruas e avenidas, e de um percurso que durou 20 minutos, desci finalmente na Plaça de Catalunya, onde me senti meio perdida e rodei a praça em seus 360°.
Afinal, havia chegado depois de uma viagem de dez horas e apesar do voo ter sido direto e super tranquilo, aquela zonzeira que misturava os horĂĄrios ainda habitava em mim.
Finalmente, me pus no caminho do hostel, que ficava bem próximo à praça e cheguei diante de uma porta enorme de ferro e vidro que jå devia datar de pelo menos um século.
Entrei no prédio junto com um morador e logo me deparei com um pitoresco elevador também de ferro, com porta manual, lindo demais.
Subi.
O hostel escolhido, depois de muito pesquisar e reservar com alguns meses de antecedĂȘncia pelo Booking.com, foi o Somnio Hostels Barcelona , na Rua Diputacio, 251, 2, Eixample, Barcelona uma excelente localização, ao lado do Passeig de GrĂ cia onde ficam os mais famosos palacetes que relatam, com sua arquitetura modernista, a glamorosa vida catalĂŁ no inĂcio do sĂ©culo XX.
Um hostel simples e acolhedor que, apesar de nĂŁo ter ĂĄrea de convĂvio, foi uma excelente opção. Meu quarto era individual, pequeno mas confortĂĄvel o suficiente, com banheiro compartilhado espaçoso e muito limpo. Mas o seu ponto alto mesmo Ă© a localização.
Assim que cheguei me forneceram todas as chaves o que me deu liberdade de entrar e sair nos horĂĄrios que escolhi para os passeios, alguns com tickets comprados pela internet, outros comprados direto nos guichĂȘs. Tudo perfeito.
Ă importante saber quais atraçÔes sĂŁo as mais concorridas para providenciar os tickets pela internet para evitar as filas. Eu nĂŁo peguei fila nenhuma. Atentem-se para os sites oficiais: Park GĂŒell , Sagrada FamĂlia , Casa BatllĂł e Casa MilĂĄ – La Pedrera . Ă importante comprar com alguma antecedĂȘncia e fazer a reserva de horĂĄrios.
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Bem…
Recém chegada ao hostel, tomei um banho e caà pra rua. Devia ser umas cinco da tarde, o céu estava nebuloso e eu fui direto ao Passeig de Grà cia ver de perto a fachada da Casa Batlló. Sentei-me num banco e passei a observar cada caquinho do grande mosaico de sua fachada, estruturados ali meticulosamente, como no conjunto todo da obra do arquiteto.
Casa BatllĂł – GaudĂ – Passeig de GrĂ cia, 43
JĂĄ estava com destino certo para saborear um Crema de Catalunya da tradicional Granja M. Viader … uma chocolateria fundada em 1870, que jĂĄ percorreu 5 geraçÔes de uma familia catalĂŁ, localizada muito prĂłxima Ă La Rambla, umas das principais ruas da cidade, embora o lugar seja meio chatinho de achar, pesquise no Google Maps antes de sair de casa.
Granja M. Viader – Carrer d’en XuclĂ , 4/6
O prĂłximo passo foi vasculiar cada cantinho da Plaça de Catalunya, apĂłs subir a La Rambla em meio a um montĂŁo de turistas desgovernados como formigas sem rumo, e ir “pra casa” descansar para o novo dia.
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Segundo dia
Com o ticket jĂĄ comprado e com reserva de horĂĄrio feitos pela internet, o passeio principal do dia ficou por conta do palacete do Passeig de GrĂ cia, uma das principais obras do arquiteto catalĂŁo GaudĂ, a Casa BatllĂł.
As colunas da casa em formato de ossos humanos sĂŁo um espetĂĄculo Ă parte.
Como o horårio reservado para a visita era na parte da tarde, investi todo o dia para fazer um reconhecimento do centro histórico da cidade, começando pela Catedral Medieval.
Com a fachada  neogĂłtica  redefinida no sĂ©culo XIX, a Catedral em estilo gĂłtico, foi construĂda entre os sĂ©culos XIII e XV sobre a antiga catedral romĂąnica que, por sua vez, jĂĄ estava edificada sobre uma igreja da Ă©poca visigoda e esta precedeu a uma basĂlica paleocristĂŁ, cujos restos podem ser vistos no subsolo do Museu de HistĂłria da Cidade  , ligado subterrĂąneamente ao prĂ©dio principal da Catedral. Abra os links se quiser se aprofundar na histĂłria dela.
O Museu de HistĂłria da Cidade merece ser visitado, pois que eu …
… infelizmente, nĂŁo consegui fazer a visita completa, razĂŁo pela qual terei que voltar. đ
Saindo da Catedral, me aprofundei no Barrio GĂłtico onde fica situada a juderia, com muitas lojinhas e bares dos comerciantes mais antigos do lugar, com seus prĂ©dios muito juntinhos, caracterĂstico dos bairros judeus dos tempos da invasĂŁo islĂąmica em territĂłrio IbĂ©rico, no inĂcio do sĂ©culo VIII.
Eis que de repente, meu primeiro susto. A Igreja Santa Maria do Mar , magistralmente surge no meio dos pequenos prĂ©dios e com seu estilo medieval me tomou de assombro ao entrar, foi quase como retornar no tempo. Escura e sombria, guarda em sua arquitetura o ruĂdo de sua Ă©poca, de dominação cristĂŁ no apogeu da Idade MĂ©dia, no sĂ©culo XIV.
Igreja Santa Maria do Mar – Plaça de Santa Maria, 1 – Bairro da Ribeira – Barcelona
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Com hora marcada e ticket comprado, cheguei ao Passeig de GrĂĄcia pontualmente Ă s 16:30h e entrei, apesar da pequena fila que jĂĄ estava formada lĂĄ fora. Peguei o equipamento de audiovisual que jĂĄ estava reservado no ingresso e comecei a minha jornada de arte, design e arquitetura que me aguardava a cada porta que se abria, a cada degrau que eu subia. A casa Ă© realmente genial, e pra quem quiser saber um pouquinho sobre ela, o link estĂĄ em azul no nome dela ali em cima. GaudĂ deixou sua marca em todos os detalhes do palacete, e esse audiovisual que eles fornecem na entrada ajuda muito no entendimento da obra, mesmo estando em espanhol ou inglĂȘs. HĂĄ gravaçÔes em outros idiomas mas infelizmente nĂŁo tem em portuguĂȘs. Compre os ingressos no site oficial.
Terceiro dia
O terceiro dia foi muito bem aproveitado, mas um pouco corrido. Acordei bem cedo pois concentrei duas das atividades com hora marcada, uma de manhĂŁ e outra Ă tarde, com um intervalo entre as duas para dar tempo de visitar uma terceira pelo caminho.
Peguei o metrĂŽ Ă s 9h no Passeig de GrĂ cia, a poucos quarteirĂ”es do hostel e desci na Sagrada FamĂlia. Meu horĂĄrio era 10:30h e eu nĂŁo podia me atrasar.
Cheguei um pouco mais cedo e pude aproveitar o jardim em frente ao monumento. Sim, o Templo Ă© um verdadeiro monumento.
A luz natural desse templo Ă© algo indescritĂvel, seus vitrais do lado do sol nascente sĂŁo azuis e amarelos pra simbolizar as manhĂŁs com o nascer do sol e do lado do sol poente sĂŁo vermelhos e alaranjados e simbolizam o pĂŽr do sol. Sendo assim, conforme o sol se movimenta do lado de fora os vidros refletem para dentro a cor do dia. Ă lindo demais. Existe um vĂŁo aberto acima da nave principal que deixa um facho de luz natural entrar para iluminar o Jesus crucificado que a adorna no exato centro do tempo. Suas colunas, que simbolizam as ĂĄrvores gigantescas de uma floresta, sĂŁo feitas com mĂĄrmores de diferentes cores, que partem de vĂĄrias nuances de cinzas atĂ© um vinho acinzentado e aos pares arregimentam suas simbologias.
Templo EspiatĂłrio da Sagrada FamĂlia
Em obras desde 1882, o templo foi a menina dos olhos de GaudĂ que dedicou seus Ășltimos 40 anos de vida a ela, onde fixou residĂȘncia para poder respirĂĄ-la em sua integralidade. A deixou inacabada mas com a promessa de que a construção continuaria ininterruptamente, apĂłs a sua morte, com dinheiro de doaçÔes privadas e pela arrecadação da visitação pĂșblica.
E assim estå sendo feito desde o atropelamento que o levou da vida, em 1926. A data estabelecida para a conclusão da obra é 2026, por ocasião do centenårio da sua morte. Compre os ingressos no site oficial.
Acabada a visita Ă Sagrada FamĂlia, para a qual devemos reservar um perĂodo aproximado de 2 horas, segui caminhando para mais uma atração mas eu nĂŁo consegui comprar o ticket, pois estava esgotado. Deixei pra Ășltima hora e dancei. Mesmo assim, o prĂ©dio visto de fora Ă© bem bonito. O Hospital de La Santa Creu i Sant Pau fica a 15 min de caminhada ao norte do templo e Ă© considerado uma pĂ©rola do modernismo catalĂŁo. Tombado pelo PatrimĂŽnio HistĂłrico da Unesco, estĂĄ aberto Ă visitação e Ă© menos assediado pelos turistas, mas como sĂł tem visita guiada sĂŁo colocados poucos convites Ă venda que Ă© feita sĂł pela internet e o Park GĂŒell, meu segundo passeio com hora marcada do dia, fica ali perto, a poucos minutos de taxi. Apesar de o hospital nĂŁo fazer parte do complexo das obras de GaudĂ, vale muito a pena agendar a visita com alguma antecedĂȘncia. Compre o ticket no site oficial.
Partiu Park GĂŒell. Bora pegar um taxi? …
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Cheguei ao Park GĂŒell meia hora antes do horĂĄrio marcado. Como a entrada respeita um horĂĄrio rigoroso, me sentei no jardim que o rodeia e comi meu lanchinho de baguete com jamĂłn e salada que comprei na padaria perto do hostel, com suco de laranja. uma delĂcia… jamĂłn de manhĂŁ, Ă tarde e Ă noite. đ
Ao entrar no parque me encantei com a imensidão da obra de Gaudà mas ela é bem diferente do que eu esperava. Avistei dali o Mediterrùneo que eu ainda não conhecia. E då pra ver também quase toda a cidade.
SĂŁo milhĂ”es de caquinhos de porcelana revestindo dezenas de colunas brancas enormes e muros, e a escadaria superlotada de turistas traz um guardiĂŁo, um calango gigante, tudo em mosaicos coloridos, caracterĂstico de sua obra.
As duas casas muito fofas que deveriam servir para a administração e para a segurança no projeto inicial mais parecem casinhas de duentes, e acabaram livres para a visitação, sĂŁo elas que adornam a saĂda do parque.
A obra de GaudĂ tem como caracterĂstica fundamental a arte de imitar a natureza. Assim como a inspiração para a Casa BatllĂł Ă© o oceano, a Sagrada FamĂlia se inspira na selva, e o Park GĂŒell, em sua parte mais rĂșstica traz a inspiração em troncos e raĂzes.
O Park GĂŒell nasceu pra ser um condomĂnio de luxo, de casas diferenciadas, no inĂcio do sĂ©culo XX. Mas apĂłs a construção de sua ĂĄrea externa, o projeto desandou porque as pessoas abastadas o achavam distante demais da cidade.
Alguns anos mais tarde, o dono da ĂĄrea resolveu doar o espaço para a cidade, para uso pĂșblico. Nele foi construĂda uma escola que funciona atĂ© os dias atuais.
No parque tambĂ©m encontra-se a casa onde GaudĂ foi morar por ocasiĂŁo da construção e o seu atelier. Hoje essa casa Ă© habitada pelo Museu GaudĂ e Ă© aberta para visitação. O ticket de visita ao parque nĂŁo dĂĄ direito a visitar o Museu. EntĂŁo lembre-se, se quiser visitar o Museu GaudĂ vocĂȘ deve comprar os dois tickets. Compre os dois no site oficial.
EntĂŁo…
… mesmo com uma leve garoa, saĂ do parque e resolvi descer em caminhada para a cidade. Meu terceiro dia estava acabando, jĂĄ era final de tarde e o melhor que tinha a fazer era sentir o aroma da cidade, por ruas e alamedas nada turĂsticas, fui sentindo como vivem as pessoas, nesta cidade onde se respira arte, num clima cosmopolita, onde o vai e vem de uma multidĂŁo de estrangeiros vai se misturando aos moradores, que tambĂ©m podem ter vindo de fora pra desfrutar da qualidade de vida invejĂĄvel que se tem nesse lugar.
E eu descendo pelas ruas da GrĂ cia e pensando… – sĂŁo mĂșltiplos os idiomas e as nacionalidades que a cidade acolhe, como se nascesse para ser anfitriĂŁ.
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Cheguei finalmente ao Passeig de GrĂ cia. Mortinha… parei no botecĂŁo Tapas e Tapas pedi uma cerveja com as tais tapas đ, e para minha alegria era quarta-feira e o Barça estava jogando contra o Manchester, um jogĂŁo pelo campeonato europeu e eu ali, em meio aos torcedores fechei o meu dia com chave de ouro: gool do Neymar.
ïżŒïżŒ
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Quarto dia
Depois de uma manhĂŁ de descanso, pois o dia anterior havia sido intenso, e apesar de a quinta-feira amanhecer um pouco chuvosa eu tirei o dia para fazer os passeios de CityTour.
SaĂ do hostel por volta da hora do almoço e fui direto ao Mercado da Boqueria, um mercado que se tornou um ponto turĂstico tradicional onde vocĂȘ pode degustar pratos sofisticados de maneira infornal, num espaço que espelha um pouco da rotina da cidade.
Paella vegetariana – La Boqueria
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O CityTour Ă© um passeio imperdĂvel, que normalmente deve ser feito logo no primeiro dia, pois ajuda na exploração da cidade e de seus principais pontos turĂsticos.
No sistema hop on – hop off, faz com que a gente possa descer nas paradas para fazer o reconhecimento do lugar ou mesmo antecipar alguma visita a algum ponto turĂstico mais distante da cidade, e subir no prĂłximo, desde que respeitando os pontos de parada e os dias de validade. O ticket vale por um ou dois dias, a escolha Ă© sua na hora de comprar. Se tiver tempo, pode comprar pra dois dias. Fazer os percursos completos no primeiro dia escolhendo os pontos de interesse e, no segundo, fazer o tour parando para visitar as atraçÔes escolhidas. Importante ressaltar que uma viagem de poucos dias nunca serĂĄ suficiente para conhecer tudo, Ă© preciso ter em mente as prioridades. NĂŁo hĂĄ necessidade de comprar com antecedĂȘncia, mas isto Ă© possĂvel e sempre recomendo escolher o site oficial.
Passei um dia muito agradĂĄvel, visualizando vĂĄrios lugares que eu nĂŁo iria visitar desta vez, e que sĂŁo lugares lindos e que valem cada ponto do passeio.
Museu Fundação Joan Miró
Prédio do Correio
Terminado os passeios de CityTour, mesmo com a temperatura baixa e a leve garoa que surpreendia de tempo em tempo, e de volta ao Passeig de Grà cia, resolvi dar uma olhada na Fachada da Casa Milà para fazer umas fotos, jå que não havia comprado ticket antecipado para a visitação. Jå era final de tarde, a garoa havia dado uma trégua, e ao chegar em frente à atração, percebi que não havia filas, e consegui comprar para as 18h direto na bilheteria.
Subi para o restaurante que funciona ali ao lado e fiz um lanchinho delicioso para esperar o horĂĄrio da visita.
Chegando a hora reservada, desci para a rua ao lado e entrei no prĂ©dio da Casa MilĂ que, das obras de GaudĂ, foi a que mais me impressionou, depois da Sagrada FamĂlia.
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Antes de começar a falar sobre o quinto dia eu preciso fazer um adendo sobre como o Universo conspira para grandes encontros.
Poucos dias antes do embarque descobri que duas primas queridas estariam percorrendo, coincidentemente, o mesmo roteiro que eu, e que percorreriam de carro, na costa sul da Espanha, os chamados Pueblos Blancos, lugares que eu nĂŁo conseguiria chegar de trem.
E acabamos por adaptar parte dos nossos roteiros para fazer desse trecho, uma convivĂȘncia que nĂŁo tĂnhamos desde crianças.
Tirei do meu plano de viagem minha estada em CĂłrdoba e uma noite em Granada, e elas adicionaram no delas um bate e volta de Sevilla a CĂłrdoba para visitarmos a Mesquita.
E nos dias que me sobraram com esse corte, viajamos juntas para Nerja e Marbella, de passagem, Vejer de la Frontera numa parada com pernoite inesquecĂvel, e CĂĄdiz, antes de chegarmos a Sevilla.
Elas chegariam em Barcelona dois dias apĂłs a minha chegada mas sĂł nos encontrarĂmos no Ășltimo dia antes da partida para Madrid.
E foi.
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Quinto dia
Pela manhĂŁ, arrumei a mochila e jĂĄ deixei tudo meio ajeitado pois esse seria meu Ășltimo dia na cidade.
Ainda faltava muita coisa pra ser visto mas eu teria que ser seletiva pois o tempo estava acabando. Eu ainda tinha que visitar o Museu Picasso e o Palau de la MĂșsica CatalĂŁ, duas das atraçÔes imperdĂveis de Barcelona e eu teria que me apressar.
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Palau de la MĂșsica CatalĂŁ
Segui para o Palau de la MĂșsica CatalĂŁ e comprei o ticket da visita guiada para as 13:30h direto na bilheteria. Por sorte, consegui horĂĄrio sem fazer reserva antecipada.
Almocei ali mesmo, enquanto aguardava pois o restaurante era bem agradåvel e fazia parte do prédio do palåcio que é simplesmente de tirar o fÎlego.
Ăs 13:30h em ponto eu entrei. DifĂcil Ă© explicar como ele Ă©. A sala de espetĂĄculos Ă© lindĂssima, minuciosamente detalhada, com vitrais, esculturas e muita simbologia nas paredes, nos adornos e nas colunas.
O projeto, concebido por Montaner, traz algumas semalhanças com GaudĂ, pois que os dois, grandes arquitetos catalĂŁes alĂ©m de contemporĂąneos marcaram, no estilo modernista, as suas obras.
No final da tarde, me encontraria com minhas primas no hotel onde jĂĄ se hospedavam hĂĄ alguns dias e precisavamos acertar os detalhes da viagem a Madrid que, por coincidĂȘncia, havĂamos marcado para o mesmo dia.
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Museu Picasso
Da saĂda do Palau de la MĂșsica CatalĂŁ, tive um pouco de dificuldade para encontrar o Museu Picasso. NĂŁo Ă© muito longe mas as ruas do Barrio GĂłtico sĂŁo muito parecidas e eu estava sem o mapa no celular. Havia visualizado o caminho antes de sair do hostel mas acabei fotografando muito no PalĂĄcio da MĂșsica, que acabei ficando com pouquĂssima bateria no celular. Desci em direção Ă praia, passei da rua, fui parar na avenida beira mar, subi, demorei pra encontrar, a bateria do celular acabou e quando encontrei, havia uma fila considerĂĄvel para entrar no museu mas encarei.
A visitação foi complicada, o museu estava cheio, a sexta-feira jĂĄ se esvaia, meu tempo estava esgotando, minha programação para ele foi nenhuma, nĂŁo consegui fotografar, nem ver nada direito. Fiquei um pouco fĂłbica lĂĄ dentro,  apesar do museu ser bem clean, mas eu jĂĄ estava com sĂndrome da viagem do dia seguinte, ainda precisava decidir o horĂĄrio do trem e reservar a passagem pelo Rail Europe,  minhas primas jĂĄ estariam me esperando para nosso encontro do final da tarde e eu nĂŁo queria admitir que estava me sentindo mal; resolvi ir embora. Reservarei um tempo maior para ele na minha prĂłxima ida Ă cidade, uma boa razĂŁo pra voltar.
Com isso eu aprendi que, numa viagem longa, nem tudo Ă© como programamos. Que imprevistos acontecem e que nosso corpo precisa de descanso. O Museu Picasso Ă© bem bonito, vale a pena ser visitado, pois as obras desse grande mestre espanhol nĂŁo podem ficar de fora de roteiro algum.
Picasso e MirĂł ficaram para a prĂłxima, quando pretendo incluir um bate e volta Ă cidade de Figueres, uma hora de trem de Barcelona, para conhecer o Museu DalĂ. Para conhecer um pouco da histĂłria do museu basta clicar .
Por fim… ponto pra GaudĂ.
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Essas sĂŁo as minhas primas…Â CĂĄdiz – 30 de outubro de 2016. Carmen e Soninha .
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Daqui pra frente esta histĂłria serĂĄ contada no plural, porque essa parte da viagem foi plural. Apesar de sermos muito amigas desde sempre, nunca tĂnhamos tido uma experiĂȘncia tĂŁo Ăntima, uma convivĂȘncia tĂŁo prĂłxima, de dias tĂŁo divertidos. Essa foto diz tudo… mas essa Ă© uma outra histĂłria.
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Fui ao encontro de minhas primas no hotel onde jå estavam à minha espera. Desci pela Barceloneta e segui acompanhando o Mediterrùneo algumas quadras até encontrar o endereço. As duas, Carmen e Sonia me aguardavam no lounge tomando um drink e logo fomos para a rua.
EncontrĂĄ-las foi uma delicia depois desses meus dias solitĂĄrios em contato apenas com a cidade e sua arte.
Fizemos um passeio pelo cais, região ainda inexplorada desse meu roteiro, que eu jå não sabia mais dizer se estava por terminar ou apenas começando. Barcelona jå me deixava uma grande saudade antes mesmo da nossa partida.
Carmen, Sonia e eu – 21 de outubro de 2016
(ps: a Carmen Ă© a fotĂłgrafa oficial, por isso aparece menos).
De regresso ao hotel, subimos ao apartamento, brindamos com Campari ao nosso encontro, descemos para o bar para “unas tapas con jamĂłn e cerveza” e para dar inĂcio Ă traquinagem, fomos chamadas ao pequeno palco para dar sotaque brasileiro Ă “Garota de Ipanema” que seria cantada pela banda em nossa homenagem. (NĂŁo temos imagens, ainda bem!)
Marcamos as passagens, subimos por La Rambla até a Plaça de Catalunya, elas desceram de volta e eu segui para o meu hostel, a me despedir das ruas e calçadas que tão bem me receberam feito Cinderela, pois jå era meia-noite e o trem partiria às 11 da manhã.
Deixei em Barcelona um pedacinho de mim…
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(Eu estava por terminar esta edição quando algo terrĂvel aconteceu em Barcelona, tive que parar o trabalho por uns dias porque a emoção me impediu de continuar, deixo aqui o meu coração cheio de amor a essa cidade que tanto me encantou e que hoje sofre a dor do terror sem fronteiras).
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PrĂłxima parada:
Infinite Blue
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The ambience is dark, half lights lighten the tables around. A woman’s voice sings a beautiful song where people dance. They are dining, the place is extremely nice. Some of them are toasting and there’s my hero standing on his back, looking at the dance floor and following the music in a gentle swing. I move there, I can feel his loneliness again among the many people, the movement of his body causes me heat and I, levitating to meet him, I can imagine his perfume. The environment is bluish and reminds me of the sky, as if he were the only angel, exhaling the aroma of wood and musk that makes me serious. And I lose my mind. This man is everything, on the island of Rodos, in Greece, as a god! …
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O ambiente Ă© escuro, meias luzes clareiam as mesas ao redor. Uma voz de mulher canta uma mĂșsica linda onde as pessoas dançam. Eles estĂŁo jantando, o lugar Ă© extremamente agradĂĄvel. Alguns deles estĂŁo brindando e ali estĂĄ o meu herĂłi, em pĂ©, de costas, olhando pra pista de dança e acompanhando a mĂșsica num suave balanço. Eu me transporto atĂ© lĂĄ, posso sentir novamente a sua solidĂŁo entre as tantas pessoas, o movimento do corpo me causa calor e eu, levitando ao seu encontro, fico a imaginar seu perfume. O ambiente Ă© azulado e me faz lembrar o cĂ©u, como se ele fosse o Ășnico anjo, a exalar o aroma de madeira e almiscar que me tira do sĂ©rio. E eu perco a cabeça. Esse homem Ă© tudo, na Ilha de Rodos, na GrĂ©cia, como um deus! …
(sandra barbosa de oliveira)
Engin AkyĂŒrek
Fotografia de Coimbra
(JosĂ© LuĂs Peixoto)
“Coimbra Ă© a cidade e a esperança dos domingos Ă tarde. Um calendĂĄrio abandonado no bolso do casaco Ă© Coimbra. Coimbra sĂŁo fotografias reveladas de um rolo antigo, esquecido numa gaveta. E, no entanto, enquanto falamos, Coimbra existe e corre no recreio. Existe ar que Ă© respirado apenas por Coimbra. Existe um coração no seu peito a bater, e esse Ă© um milagre de deus que transcende deus.”
(Fotografia de Coimbra – Gaveta de PapĂ©is)
infinita impossibilidade
(Sandra Barbosa de Oliveira)
o poeta encanta
enquanto canta
mantra
em versos
canto escuro como um manto
encantado o véu assim
no entardecer do céu
do sol se pĂŽr
por tanto
azul a iluminar minar
da ågua azul também
fazer brilhar
o poeta enquanto canta
o mantra em céu
a escoar da chuva
em pleno pĂŽr do sol
no entardecer
lilĂĄs molhado
o santo manto
azul transformado
mina também
no anoitecer do seu canto
triste algum lugar
escuro azul
e o poeta canta
encanta estrela em verso
eterno amor
infinita impossibilidade
do canto triste
a desvendar caminho
como seguir seu sonho
a naufragar poemas
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Cuca Roseta – Igreja Santa Maria de Ăbidos
Ăbidos Ă© a sede do municĂpio de mesmo nome, situado no distrito de Leiria, regiĂŁo central de Portugal. Sua grande atração Ă© a Vila Medieval, que conta com cerca de 2200 habitantes e Ă© hoje importante polo turĂstico da regiĂŁo.
Seus primeiros achados datam da InvasĂŁo Romana na penĂnsula IbĂ©rica, em tempos de CĂ©sar Augusto, no sĂ©culo I a.C., com referĂȘncias bibliogrĂĄficas remetidas ao sĂ©culo I, na obra “Naturalis Historia” de PlĂnio, o velho, onde foi citada.
Seu nome deriva do termo latino “Ăłpido”, que significa cidadela. E Ă© conceituada como a cidade literĂĄria.
Reza a lenda que a Igreja Santa Maria de Ăbidos tenha sido construĂda no perĂodo visigĂłtico e, depois de ser transformada em mesquita no perĂodo de dominação mulçumana, voltou ao poder da Igreja Romana, em 1148, pelas mĂŁo de D. Afonso Henriques.
Aos finais do sĂ©culo XV, ela passou por uma reedificação, pois que apresentava-se em completa ruĂna, promovida, quem sabe, por um possĂvel terremoto, anterior ao de 1755 que devastou Lisboa e toda a regiĂŁo sul de Portugal.
E foi na Igreja Santa Maria de Ăbidos, que no sĂĄbado, 03 de junho Ășltimo, a maior cantora de fado da atualidade, Cuca Roseta, subiu ao altar em seu tradicionalĂssimo casamento, e nos presenteou com essa interpretação impecĂĄvel de Ave Maria, que fica aqui para celebrar o que Ă© Portugal.
Conhecer Ăbidos Ă© paragem obrigatĂłria para quem visita Portugal. Simplesmente inesquecĂvel.
Portugal, minha paixĂŁo!
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As mudanças na imigração brasileira em Portugal
ECONOMIA EM DIA COM A CATĂLICA-LISBON
Hå um encanto dos brasileiros com Portugal, uma atracção que a economia não explica, baseada na baixa criminalidade, na redescoberta da cultura portuguesa e da sua relação com as tradiçÔes brasileiras
Os portugueses constituem o principal grupo de imigrantes no Brasil, com quase 30% do total de imigrantes em 2012 (277.727 portugueses num total de 938.933 imigrantes no Brasil). Da mesma forma, os brasileiros formam a primeira nacionalidade de imigrantes em Portugal, com mais de 20% do total, com 82.590 brasileiros contabilizados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras num total de 388.731 imigrantes em Portugal, em 2015. Existem, no entanto, fontes nĂŁo oficiais que sugerem que este nĂșmero Ă© cerca de metade do nĂșmero real de brasileiros em Portugal.
Naturalmente, nĂŁo Ă© muito surpreendente que os portugueses tenham tanta importĂąncia na imigração do paĂs que colonizaram. De fato, de acordo com Carlos Lessa (2002), no ano de 1890, os portugueses compunham 20,36% da população da cidade do Rio de Janeiro (106.461 pessoas). Se somĂĄssemos a este nĂșmero, os brasileiros natos com ambos pais portugueses, terĂamos, naquele ano, 51,2% dos habitantes do Rio, um total de 267.664 pessoas.
Menos Ăłbvia Ă© a importĂąncia da imigração brasileira em Portugal. Apesar de o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras sĂł disponibilizar dados a partir de 1999 (veja tabela abaixo), constata-se que sĂł a partir de 2007, os brasileiros passaram a ser os imigrantes em maior nĂșmero em Portugal, posto que era ocupado pelos cabo-verdianos.
Imigrantes em Portugal
A imigração recente brasileira em Portugal tem dois perĂodos bem distintos. O primeiro, de 1999 atĂ© 2010, consolidou os brasileiros como os principais imigrantes em Portugal, com um incrĂvel crescimento de quase 700% nestes 11 anos, passando de cerca de 20 mil para quase 120 mil, e de 10,9% para 26,8% do total de imigrantes em Portugal. O segundo de 2011 atĂ© ao presente, assistimos a um fluxo negativo de imigração brasileira em Portugal, com mais brasileiros a sair do que a entrar.
HĂĄ muitos fatores que influenciam fluxos migratĂłrios e certamente nĂŁo tenho a pretensĂŁo de explicar todos. Mas ao investigar outros dados podemos aprender um pouco do que pode ter levado primeiro Ă explosĂŁo do fluxo e posteriormente Ă sua inversĂŁo. SerĂĄ que podemos aprender um pouco ao compararmos os dados de fluxos migratĂłrios com os dados de PIB e desemprego brasileiros e portugueses?
Nesta anĂĄlise do PIB e do desemprego brasileiro e portuguĂȘs, levo em conta que hĂĄ um desfasamento no efeito destas variĂĄveis no fluxo de brasileiros para Portugal. Utilizo um desfasamento de trĂȘs anos, assim, o perĂodo 1 termina trĂȘs anos antes de 2010, ano que o fluxo imigratĂłrio passou de positivo para negativo. JĂĄ o perĂodo 2 vai de 2008 atĂ© 2013, trĂȘs anos antes do Ășltimo ano que temos dados, 2016. Finalmente, o perĂodo 3, que dĂĄ sugestĂ”es de como o fluxo migratĂłrio se comportarĂĄ a partir de 2016 (os dados do SEF vĂŁo atĂ© 2015), começa em 2014 e vai atĂ© 2016.
Nos grĂĄficos abaixo, justaponho o crescimento do fluxo de brasileiros para Portugal â definido como a variação percentual anual do nĂșmero de brasileiros contabilizados pelo SEF â com o Produto Interno Bruto de Portugal e do Brasil, e a taxa de desemprego dos dois paĂses, definida como percentual da população que busca emprego e nĂŁo estĂĄ a trabalhar.
Como se pode depreender das figuras acima, o perĂodo 1 Ă© favorĂĄvel ao fluxo positivo de imigrantes brasileiros em Portugal: O PIB portuguĂȘs Ă© relativamente alto, o PIB brasileiro Ă© relativamente baixo, o desemprego portuguĂȘs cresce, mas ainda se encontra num nĂvel baixo, o desemprego brasileiro diminui, mas ainda se encontra a um nĂvel alto.
A partir de 2008, a grande crise financeira mundial e a crise da dĂvida europeia levaram Portugal a uma forte recessĂŁo, enquanto o Brasil parecia dar sinais de decoupling, a explicação encontrada por economistas na Ă©poca, de que os paĂses emergentes finalmente se encontravam numa trajetĂłria de crescimento claramente superior Ă dos paĂses desenvolvidos. Ao mesmo tempo, o desemprego portuguĂȘs continuava a crescer, mas agora jĂĄ estava a nĂveis altos. Enquanto isso, o desemprego brasileiro continuava a decrescer e estava agora a um nĂvel baixo. Assim, o perĂodo 2 dĂĄ algumas explicaçÔes sobre a alteração do fluxo brasileiro de positivo para negativo.
O que esperar entĂŁo do fluxo migratĂłrio a partir de 2016, explicado em parte sobre o desempenho das economias portuguesa e brasileira a partir de 2014? Talvez o perĂodo 3 seja o que ofereça sinais mais claros: a economia portuguesa em franca expansĂŁo, com o desemprego em nĂtida trajetĂłria de queda; a economia brasileira, ao contrĂĄrio, sofre o maior perĂodo de contração desde que a sĂ©rie de PIB brasileira começou a ser calculada, em 1947, e o desemprego mais que duplicou em menos de dois anos. Se depender apenas destes fatores, assistiremos nos prĂłximos 3 anos a uma nova alteração do fluxo de imigrantes brasileiros para Portugal de negativo para positivo.
As anĂĄlises acima estĂŁo resumidas na tabela abaixo.
Ă claro que a anĂĄlise nĂŁo Ă© completa. HĂĄ muitos outros fatores que nĂŁo dizem respeito Ă economia que afetam o fluxo migratĂłrio. Como luso-brasileiro nascido e criado no Brasil e com quatro bisavĂłs portugueses, sinto-me Ă vontade para dizer que os brasileiros estĂŁo recentemente a redescobrir Portugal, que, incrivelmente, ficou esquecido ou com pouco destaque na mente brasileira durante boa parte do sĂ©culo XX. HĂĄ um encanto dos brasileiros com Portugal, e hĂĄ atrativos nĂŁo explicados em sĂ©ries econĂłmicas, tais como a baixa criminalidade, a redescoberta da rica cultura portuguesa e a sua Ăntima relação com as tradiçÔes brasileiras. Claro, hĂĄ tambĂ©m a lĂngua comum, mesmo que alguns brasileiros Ă s vezes fiquem atĂłnitos nos primeiros dias em Portugal.
Ainda Ă© possĂvel que uma parte importante da vaga de brasileiros que imigraram para Portugal atĂ© 2010 desejavam sobretudo adquirir um passaporte europeu e em seguida partir para outras praças europeias. Somando-se a isso evidĂȘncia anedĂłtica http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/01/1727310-nova-onda-de-brasileiros-que-vai-a-portugal-e-qualificada-e-foge-da-crise.shtml que os brasileiros que imigraram a Portugal nos Ășltimos quatro anos sĂŁo mais qualificados e vĂȘm para ficar, talvez esta novĂssima vaga seja menos importante que a anterior e o fluxo positivo da novĂssima vaga nĂŁo seja suficiente para estancar o fluxo negativo, ainda em curso, da vaga anterior.
Portanto, a anĂĄlise conjuntural que ofereço neste artigo nĂŁo pode explicar efeitos de tendĂȘncia que sĂŁo melhor compreendidos por estudiosos de costumes das duas sociedades.
Em todo caso, efeito de tendĂȘncia ou conjuntural, os laços culturais entre os dois paĂses tornaram-se mais fortes nas Ășltimas dĂ©cadas. NĂŁo Ă© possĂvel ignorar os principais imigrantes no Brasil e os imigrantes que compĂ”em, de acordo com dados que tambĂ©m incluem imigrantes brasileiros nĂŁo contabilizados pelo SEF, cerca de 1,5% da população em Portugal e 4% da regiĂŁo da grande Lisboa.
Assistant Professor da CatĂłlica Lisbon School of Business & Economics
Beijada por Mia Couto
Sofia Cerveira – um pedacinho de Lisboa aqui no coração
Sem querer, num belo dia de sol, num belo lugar… nĂŁo me lembro mais nem onde, nem porquĂȘ …
… porque onde e porquĂȘ tem horas que tanto faz …
… Me apareceu um anjo.
… Ora com sotaque lusitano … ora com impecĂĄvel dicção do portuguĂȘs falado no Brasil … Num Rio de Janeiro de mar, montanhas e luz … sĂł podia ter vindo do cĂ©u.
E um bem-querer veio se instando com força, que de tanta, fez gerar uma amizade de grandes dimensÔes, que surportou a imensidão de um oceano, as imposiçÔes da distùncia e o girar das duas vidas.
Porque as vidas giraram muito.
Mas mesmo assim, a força do coração não desiste.
Num belo dia de sol, de nĂŁo sei onde, nem porquĂȘ, apareceu um anjo que me levou um pedacinho do coração para “alĂ©m-mar” … mas me deixou um pedacinho de Lisboa…
Aqui pra mim.
Ela Ă© Sofia, uma simples menina, com alma de oceano! Alma de anjo!
*
#EuTeAmoBarcelona
AÂ primeira viagem
Foi apenas quando o trem de pouso bateu com as rodas no chão que eu me dei conta de que ali estava eu, sozinha e que estava por começar uma grande aventura.
O destino entre os tantos que antecederam a escolha, desde os primeiros momentos, não surgiu ao acaso e seria o tiro da grande jornada de autoconhecimento e motivação, que estava hå muito a minha espera.
Seria eu ali a vislumbrar um mundo de aromas e paisagens, arte, sensaçÔes e solidão.
Meu medo me obstruĂa a passagem mas nunca haveria de chegar a minha hora se eu nĂŁo criasse o momento… e parti.
Ao desembarcar em Barcelona, naquele que seria o meu primeiro chĂŁo de mundo livre, o aeroporto me recepcionou com maestria e me encaminhou para as ruas da cidade.
Ănibus, buzinas, o peso da mochila nas costas, tudo meio adormecido ainda diante do desembarque, no momento da chegada.
A tarde estava morna, o tempo sem cor, nem frio nem calor.
Eu ainda embriagada pelas horas do voo, desci na praça principal, rodeei-a a 360 graus e percebi-me perdida em meu giro, em meu relógio, em meus sentidos, em minhas pernas, tantas eram as ruas que a cercavam que eu não conseguia sair do lugar.
Até que por um momento eu parei, oxigenei, e percebi que jå havia chegado ao meu destino e que o caminho me levaria de encontro aos meus anseios de marinheiro atracado no primeiro porto.
E foi assim que eu encontrei o hostel, logo ali perto, no mesmĂssimo lugar em que o mapa o havia apontado.
E foi que eu sorri diante da majestosa porta centenĂĄria que ao abrĂ-la pensei comigo…
eu venci!
*
Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mågoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chĂŁo de verde manto,
Que jĂĄ coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que nĂŁo se muda jĂĄ como soĂa.
LuĂs Vaz de CamĂ”es, in “Sonetos”
Mudanças
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Chega uma hora na vida da gente que hĂĄ a necessidade de se fazer um movimento. De dez em dez anos ( Ă© o que eu mais ou menos calculo) precisamos fechar nossos ciclos e abrir novas perspectivas para trilhar nossos caminhos. Foi o que aconteceu aqui, com o Elemento LĂngua. Ele sempre foi um carregador de emoçÔes e novidades que foram pintando na minha vida, depois que eu resolvi dar uma primeira grande virada, porque pequenas viradas eu sempre dei, nunca me ausentei ao novo, ao difĂcil, ao diferente. E Ă© aqui, hoje, agora… que eu darei mais um passo a diante. Porque temos que seguir em frente, porque somos responsĂĄveis por nossas trilhas, ou simplesmente… porque chegou a hora. Eu poderia ter criado um blog novo, para essa nova etapa, mas tudo o que tem aqui faz parte da minha trajetĂłria, entĂŁo eu nĂŁo me foquei em querer que ele fique dentro dos moldes do mercado, que fique super, hiper, ultra profissional… mas o que eu desejo, com essa minha mais uma reviravolta na vida, Ă© que todo o conteĂșdo que saia daqui seja bem apreendido, e que eu possa estar Ă altura das expectativas do meu pĂșblico leitor. E Ă© isso, o Blog mudou, a vida mudou, eu mudei. E o meu sentimento agora, Ă© que a alguns meses antes de completar os meus 60, eu possa contribuir para aquilo que eu mais preso nas pessoas… que Ă© o direito de se dar chance, de olhar pra frente com a cabeça erguida, de juntar todas as forças pra fazer de suas vidas uma constante mudança. Porque pra ser feliz Ă© preciso querer. SĂŁo Paulo, 30 de junho de 2017.
Ă hora de participar!
NĂŁo se trata de defender ou acusar governos ou parlamentares, trata-se apenas de defender valores referentes a direitos adquiridos.
Nossos problemas deixaram de envolver apenas as questĂ”es polĂticas e entraram no campo moral e Ă©tico. Perdeu-se a credibilidade nas instituiçÔes.
Não se pode revolver-se no tempo para destituir grandes conquistas legais ou coisas quaisquer que possam desconstruir uma suada trajetória às liberdades individuais, nem fortalecer ameaças ao estado democråtico de direito.
Ă a Democracia que estĂĄ em jogo.NĂŁo estamos em meio Ă uma partida num estĂĄdio.
Estamos construindo sociedades, educando crianças para o futuro polĂtico da nação.
Toda responsabilidade Ă© pouca em se tratando da vida e do bem comum.
Precisamos de garantias institucionais para que os direitos das minorias fiquem preservados, não permitindo retrocessos e nenhuma subjeção, pois que devemos ouvir, nesse momento, a voz de toda a sociedade.
*
Em tempo: o Brasil Ă© um paĂs laico! …
Rompendo tabus … com Isabel Dias
Quando o assunto Ă© erotismo, muita gente aplaude a literatura apresentada em livros como “Cinquenta tons de cinza”, transformando esse instrumento de opressĂŁo em best-seller internacional.
Hollywood tambĂ©m aposta nessa opressĂŁo porque sabe que Ă© o idealismo machista que patrocina a exploração de conteĂșdos onde a mulher Ă© alvo de violĂȘncia e desrespeito, trazendo milhĂ”es de dĂłlares aos cofres da indĂșstria de produçÔes.
Mas quando do tema se faz a abordagem da libertação feminina, onde Ă© a mulher quem resolve mostrar a igualdade de poderes; que o virtuosismo em nada estĂĄ implĂcito na castidade; e que, depois de uma longa trajetĂłria de sofrimento, em que sempre impera a traição, a deslealdade, todo tipo de violĂȘncia psicolĂłgica e humilhação por parte de seus prĂłprios companheiros de jornada; o que temos (claro que nĂŁo em termos gerais), Ă© julgamento, preconceito e discriminação por parte de um tribunal trans-vestido em hipocrisia, dos setores desta sociedade que se diz moderna (no sentido coloquial da palavra) e libertĂĄria, mas que no fundo estĂĄ imersa num conservadorismo provinciano, hĂĄ dezenas de geraçÔes.
SerĂĄ que a mulher estĂĄ despreparada para a felicidade?
Digo tudo isso para introduzir opiniĂŁo ao livro que acabo de ler.
A autora, minha amiga, se desnuda diante do leitor sem pudores, ao descrever os casos que teve, durante um perĂodo de dois anos e meio… com cada um dos 32 homens que conheceu atravĂ©s de um site de relacionamentos, depois de um trĂĄgico e complicado processo de divĂłrcio, impulsionada pela raiva e pelo desejo de dar o troco Ă traição do marido, ao descobrir que ele tinha quatro amantes.
“32 – um homem para cada ano que passei com vocĂȘ” Ă© um livro que lava a alma de todas nĂłs mulheres, que experimentamos a dor de sermos traĂdas, humilhadas e psicologicamente violentadas por esses homens com quem nos dispusemos a compartilhar a vida, onde acreditĂĄvamos viver nossa grande histĂłria de amor, com quem nos sentĂamos seguras e acalentadas. Com quem tivemos nossos filhos, a quem tivemos dedicados nossos melhores anos, nossa lealdade, nossa beleza vigorosa e nossa juventude.
Isabel Regina Dias é uma mulher de coragem, que não demonstrou ter pudor algum ao denunciar publicamente sua decepção em relação ao homem com quem imaginava envelhecer; a depressão que quase a matou e as descobertas que fez acerca de si mesma; ao se propor, com a aceitação e apoio dos filhos, a essa busca implacåvel pela mulher que nem sequer sabia haver dentro de si.
ParabĂ©ns, Regina, minha amiga… estou aqui pra dizer que vocĂȘ me representa! …
*
Com prefĂĄcio de Xico SĂĄ … 215 pĂĄginas de muita diversĂŁo e reflexĂŁo.
Pra vocĂȘ
Se vocĂȘ nĂŁo tem um cĂ©u
eu te prometo achar
um lindo dia de sol
e uma noite de luar
Se vocĂȘ nĂŁo tem um mar
oceanos vou buscar
e das ĂĄguas os azuis
eu vou te dar
Mas se vocĂȘ estĂĄ sozinho
eu irei ao teu encontro
onde quer que vocĂȘ esteja
pra te dar o que eu tiver
sandra barbosa de oliveira
O voo do poeta
(sandra barbosa de oliveira)
Manoel de Barros
nĂŁo foi um poeta…
foi um passarinho.
Seus poemas, passaredos…
Sombras, alamedas em tristeza…
tristes as folhas,
o chĂŁo,
da terra, o emanar do perfume
das palavras que ficam.
Foi o homem das palavras cantadoras.
Mas sua terna voz trinarĂĄ para sempre,
em seu eterno ninho
haverĂĄ de cantar.
minha homenagem ao poeta passarinho
Em um relacionamento sério
Certas provocaçÔes, por certos “espiĂ”es” nas redes sociais, demonstram a fragilidade dos relacionamentos ditos “sĂ©rios”. Eu sei muito bem que quem viveu um relacionamento falido (e como sei) … ou vive um relacionamento de via Ășnica, onde nĂŁo hĂĄ reciprocidade no amor, a necessidade de espionar, de controlar e de invadir a privacidade do outro se faz como autoafirmação mas isso nĂŁo muda em nada o status da relação. (triste experiĂȘncia) …
O que se vende socialmente, na verdade, nĂŁo Ă© o sentimento real e sim uma necessidade antiquada de se manter as aparĂȘncias, o que nĂŁo condiz em nada com “o individualismo contido nas relaçÔes lĂquidas” dos tempos atuais (nas palavras de Sigmunt Bauman).
Portanto, a necessidade de manter a vida de um companheiro mediante investigação jå é um sério sinal de que a hora de por um ponto final estå próxima.
Coração Ă© um caso sĂ©rio. Mesmo a cabeça nĂŁo querendo, o que acontece em pouquĂssimos casos, quando o coração trai nĂŁo tem conserto. Por isso Ă© sempre bom pensar duas vezes antes de abrir mensagens “inbox” do cĂŽnjuge. Porque se a necessidade de espiar for maior do que a confiança, Ă© melhor que um dos dois devolva com dignidade a chave da porta da frente. Porque o tal “relacionamento sĂ©rio” …
… jĂĄ era!
Sandra Barbosa de Oliveira
Interrompendo as Buscas
Martha Medeiros
– “Assistindo ao Ăłtimo ‘Closer – Perto demais’, me veio Ă lembrança um poema chamado ‘Salvação’, de Nei DuclĂłs, que tem um verso bonito que diz: “Nenhuma pessoa Ă© lugar de repouso”.
Volta e meia este verso me persegue, e ele caiu como uma luva para a histĂłria que eu acompanhava dentro do cinema, em que quatro pessoas relacionam-se entre si e nunca se dĂŁo por satisfeitas, seguindo sempre em busca de algo que nĂŁo sabem exatamente o que Ă©. NĂŁo hĂĄ interação com outros personagens ou com as questĂ”es banais da vida. Ă uma egotrip que nĂŁo permite avanço, que nĂŁo encontra uma saĂda – o que Ă© irĂŽnico, pois o maior medo dos quatro Ă© justamente a paralisia, precisam estar sempre em movimento. Eles certamente assinariam embaixo: nenhuma pessoa Ă© lugar de repouso.
Apesar dos diĂĄlogos divertidos, Ă© um filme triste. Seco. Uma mirada microscĂłpica sobre o que o terceiro milĂȘnio tem a nos oferecer: um amplo leque de opçÔes sexuais e descompromisso total com a eternidade – nada foi feito pra durar. Quem nĂŁo estiver feliz, Ă© sĂł fazer a mala e bater a porta. RelaçÔes mais honestas, mais prĂĄticas e mais excitantes. Deveria parecer o paraĂso, mas o fato Ă© que saĂmos do cinema com um gosto amargo na boca.
Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras, aprendemos a lidar com as nossas perdas e jĂĄ nĂŁo temos tantas ilusĂ”es. Sabemos que nĂŁo iremos encontrar uma pessoa que, sozinha, conseguirĂĄ corresponder 100% a todas as nossas expectativas Âż sexuais, afetivas e intelectuais. Os que nĂŁo se conformam com isso adotam o ‘rodĂzio’ e aproveitam a vida. Que bom, que maravilha, entĂŁo deveriam sofrer menos, nĂŁo? O problema Ă© que ninguĂ©m Ă© tĂŁo maduro a ponto de abrir mĂŁo do que lhe restou de inocĂȘncia. Ainda dĂłi trocar o romantismo pelo ceticismo, ainda guardamos resquĂcios dos contos de fada. Mesmo a vida lĂĄ fora flertando descaradamente conosco, nos seduzindo com propostas tipo “leve dois, pague um”, tambĂ©m nos parece tentadora a idĂ©ia de contrariar o verso de DuclĂłs e encontrar alguĂ©m que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas.
NĂŁo hĂĄ nada de errado em curtir a mansidĂŁo de um relacionamento que jĂĄ nĂŁo Ă© apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silĂȘncio compartilhado, sem ninguĂ©m mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade. Quando se estĂĄ hĂĄ muitos anos com a mesma pessoa, hĂĄ grande chance de ela conhecer bem vocĂȘ, jĂĄ nĂŁo Ă© preciso ficar explicando a todo instante suas contradiçÔes, seus motivos, seus desejos. Economiza-se muito em palavras, os gestos falam por si. Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguĂ©m, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso?
Longas relaçÔes conseguem atravessar a fronteira do estranhamento, um vira pĂĄtria do outro. Amizade com sexo tambĂ©m Ă© um jeito legĂtimo de se relacionar, mesmo nĂŁo sendo bem encarado pelos caçadores de emoçÔes. NĂŁo Ă© pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento. Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou cafĂ©, a isso chama-se trĂ©gua. Uma relação calma entre duas pessoas que, sem se preocuparem em ser modernos ou eternos, fizeram um do outro seu lugar de repouso. Preguiça de voltar Ă ativa? Muitas vezes, Ă©. Mas tambĂ©m, vĂĄ saber, pode ser amor.
Desalento
Estar-te longe
longamente
noite estejas
Na tua voz eu ouço
a rouca Insensatez
e reconheço
Ao por do sol
Arpoador
em dor
sĂł pensamento
Ao te perder
da vista
um mar em desencanto
Num canto escuro
eu conto um pouco
e um tanto assim
um desencontro
As ĂĄguas a subir
e o sol se esconde
Ă© noite em ti
em mim sĂł um lamento
E eu aqui
poder sonhar
enquanto cantas
Um desalento.
(Desalento – Sandra Barbosa de Oliveira)
* mostrando a cara do Brasil
NĂŁo me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que jĂĄ vem malhada
Antes de eu nascer
NĂŁo me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta
Estacionando os carros
NĂŁo me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito
Ă uma navalha
NĂŁo me sortearam
A garota do FantĂĄstico
NĂŁo me subornaram
SerĂĄ que Ă© o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um Ăndio
Programada
PrĂĄ sĂł dizer sim
Grande pĂĄtria
Desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
NĂŁo, nĂŁo vou te trair
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual Ă© o teu negĂłcio?
O nome do teu sĂłcio?
Confia em mim
(Cazuza)
o poeta em mim
*
Abro janelas e portas em mim
e me espio e saio e me tranco
Trancafiar-me em minhas razÔes
me dĂłi mais do que nĂŁo tĂȘ-las
As trancas e as trincas de mim
me comprimem e me dilatam
Se me tranco eu nĂŁo sei
se estou dentro
…
ou se estou fora.
(Sandra Barbosa de Oliveira)
Malu na pracinha
Pois entĂŁo
Que a Malu chegou…
E mamou
E dormiu
E arrotou
E chorou
E fez xixi e coco
Tomou banho
De ofurĂŽ
E tanto leite
No peito da mĂŁe dela…
Que jĂĄ hoje
JĂĄ toda sirigaita
Juntinho da mĂŁe
E do pai dela
CorujĂŁo
BabĂŁo
BobĂŁo
GordĂŁo feito um balĂŁo
De tĂŁo apaixonado
Que estĂĄ por ela
Bem…
Mas bem juntinhos
Com ela
Foram passear na pracinha.
Que delĂcia essa Malu! …
Ăs tu – contemporĂąneo
Como se Ă s vezes
tua voz me chegasse aos ouvidos
coisas a dizer
gostei da tua mĂŁo
Verso moderno
nĂŁo vale um tostĂŁo
maldigo teu olhar
da cor do Arpoador
Ă beira-mar
Cantar em Bossa Nova
Toms e cifrĂŁo
musicalidade
e disso eu entendo
Poesia
a pĂłs-modernidade
te delicia com desilusĂŁo
leminskiana
Se me ligares
vais ganhar algodĂŁo doce
similares açucares
por uma doçura tua
Bala de mel ou Jintan
Fragilidade
agora nĂŁo
somos adultos
na busca das palavras
em que se encaixem rimas
Tu poeta
eu abstrato
Eu poeta
te espero…
*
(Sandra Barbosa de Oliveira …
em Elemento LĂngua)
“Conversa com o lixeiro – Carlos Drummond de Andrade” no YouTube
Mulher
Carlos Drummond de Andrade
“Para entender uma mulher
Ă© preciso mais que deitar-se com elaâŠ
HĂĄ de se ter mais sonhos
e cartas na mesa
que se possa prever nossa vĂŁ pretensĂŁo…
Para possuir uma mulher
Ă© preciso mais do que fazĂȘ-la
sentir-se em ĂȘxtase numa cama,
em uma seda,
com toda viril possibilidadeâŠ
HĂĄ de se conseguir fazĂȘ-la sorrir antes do prĂłximo encontro
Para conhecer uma mulher,
mais que em seu orgasmo,
tem de ser mais que amante perfeitoâŠ
HĂĄ de se ter o jeito certo ao sair,
e fazer da saudade
e das lembranças, todo sorrisoâŠ
O potente, o amante, o homem viril,
sĂŁo homens bonsâŠ
bons homens de abraços e passos firmesâŠ
bons homens pra se contar histĂłriasâŠ
Hå, porém, o homem certo,
de todo instante: O de depois!
Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante,
hĂĄ de se querer o amanhĂŁ,
e depois do amor
um silĂȘncio de cumplicidadeâŠ
e mostrar que o que se quis
Ă© menor do que o que nĂŁo se deve perder.
Ă esperar amanhecer, e nem lembrar do relĂłgio ou cafĂ©âŠ
HĂĄ que ser mulher, por um triz
e, entĂŁo, ser feliz!
Para amar uma mulher, mais que entendĂȘ-la,
mais que conhecĂȘ-la,
mais que possuĂ-la,
Ă© preciso honrar a obra de Deus,
e merecer um sorriso escondido,
e tambĂ©m ser possuĂdo
e, ainda assim, tambĂ©m ser virilâŠ
Para amar uma mulher, mais que tentar conquistĂĄ-la,
hĂĄ de ser conquistadoâŠ
todo tomado
e, com um pouco de sorte, tambĂ©m ser amado!â
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